No início do século XXI, o Estado de
Sergipe permanece com o seu povo sem reconhecer grande parte do seu potencial
histórico, arquitetônico e consequentemente turístico. A viagem aos engenhos
demonstrou um pouco da riqueza e do potencial que o estado tem ainda a ser
explorado tendo uma maior apreensão da História do nosso estado.
Inaugurando
a região do Cotinguiba, a primeira paragem se deu na fazenda Santa Cruz, onde a
casa grande ficava no topo da fazenda em um ponto muito elevado, a arquitetura
belíssima do século XX com seus móveis de madeira antiga adornados por raros
utensílios de porcelana. Na casa havia ilustrado por um lindo quadro na parede
onde estava Maria do Topo, a matriarca do engenho Pedra que visitaria-mos
adiante. O engenho pertencente a família Bragança. Os móveis realmente são de
uma riqueza impressionante, a mesa de jantar, os candelabros e os lustres
ricamente adornados. Despedi de Santa Cruz com uma doce lembrança de um local
familiar e calmo de um lugar que ainda conserva com maestria a beleza de tempos
áureos dos engenhos sergipanos.
| Detalhe da luminária de teto da casa da fazenda Santa Cruz |
Logo
em seguida fomos até o Engenho Pedras e vimos o abandono como destaque. Em meio
a um campo de mata e, em seguida, ao seu derredor vastas plantações de
cana-de-açúcar estava a Casa Grande em meio a sua imponência e ao lado uma
capela que ainda encontra-se conservada, embora muitas de suas características
deixaram de ser originais. No interior há explicações por parte do professor e
sua orientanda sobre a História do local e sua representação para Sergipe. A
mais antiga referência ao Engenho Pedras data de 1807; em 1835 eram seus
proprietários Luiz Barbosa Madureira e Ana de Faro de Manuel Rollemberg de
Azevedo que herdara o engenho do pai. Além do Pedras possuíam os engenhos Unha
de Gato, Maria Teles, São Joaquim e Vitória. O engenho Pedras era denominado de
bengué, seguindo o padrão da maioria dos engenhos da época que eram movidos a
cavalo. Conta-se que o engenho era o que mais possuía escravos em Sergipe
contando com 129, em 1866. Com a morte de Ana Faro o engenho passou por
inúmeras adversidades sociais e econômicas pela qual passava a Província dentre
elas a proibição do comércio de escravos, epidemias, cólera, seca, alta dos
preços e fome. Com a morte de Luiz Madureira o declinio se consolida. Bem perto
há senzalas que segundo a explicação do professor seguia uma estrutura
diferente, pois as senzalas de Sergipe eram divididas em pequenas casas para os
escravos e escravas tivessem maior intimidade e tivessem filhos gerando assim
para o seu senhor mais escravos.
| Aspecto do engenho Pedras |
A
terceira paragem se deu no fabuloso engenho Paty que encontra-se muito bem
conservado e revela muito da História do estado. Localizado no município de
Rosário do Catete significa a inteligente resistência na Revolta Tenentista de
1924. O que se evidencia bem são os canhões são evidentes ainda hoje, e pode-se
facilmente notar que retirando as árvores do ponto elevado de onde foram
colocados os canhões tinha-se uma vista estratégica de toda a região, ou seja,
quaisquer tropas que passassem destinadas a Aracaju viraria facilmente alvo da
artilharia. O engenho Paty juntamente com o Serra Negra são as duas grandes
propriedades do Cotinguiba. A localidade figura ainda como morada de Leandro
Maciel, antigo governador de Sergipe. Em relação a casa com seus móveis antigos
e porcelanas conservadas, além de quadros retratando épocas remotas, pode-se
facilmente perceber pelos seus desenhos o estilo neo-clássico de suas janelas e
que os quartos não davam grandes privacidades aos seus hóspedes ou moradores por
todos eles possuírem duas entradas, que segundo estudiosos eram para os
escravos domésticos entrarem e saírem dos quartos sem serem notados. Assim como
Santa Cruz, o Paty ficava em um local elevado onde toda a região podia ser
divisada.
| Aspecto da Casa-grande do engenho Paty |
O
quarto engenho denomina-se Santa Bárbara e apesar do azulejo português e sua
arquitetura barroca encontra-se em estado de enorme degradação e com sua
faixada, a sua frente totalmente comprometida e sem nenhuma restauração. Os
primeiros proprietários datam de 1832 e foram o senhor Theotônio Correia Dantas
casado com D. Clara Angélica de Menezes, tendo o filho do casal aí nascido.
Depois passou para o domínio da família Vieira de Mello que desmembraram o
engenho em duas partes, Santa Bárbara de Cima e Santa Bárbara de Baixo. De
início era de Bengué e depois passou a ser movido a vapor e sua produção passou
a ser expressiva chegando a moer 14 a 15 mil sacas de açúcar por safra. O
engenho era composto por duas casas-grande, uma usina, uma chaminé e de Casas
de Trabalhadores. A casa-grande que ainda resta em avançada deterioração é a de
Santa Bárbara de Baixo. Logo em seguida visitamos o Serra Negra que leva esse
nome por conta da serra que fica atrás da propriedade e hoje existe somente uma
chaminé. Servindo como aviso caso o IPHAN e os próprios profissionais de
história e turismo no estado não se mobilizem. Por último visitamos a cidade de
Rosário do Catete onde avistamos a estação ferroviária e sua linha férrea e a
casa do antigo diretor da estação. A cidade de clima tranquilo deixou uma boa
impressão ao final da excursão aos engenhos e a certeza de que Sergipe tem
muitas riquezas inexploradas e de grande valor.
O ciclo de viagem aos engenhos é
crucial para entender de forma mais coligida o estado de Sergipe e sua grande
história que desperta em todos os visitantes o interesse para conhecer a
sociedade atual.

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