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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Viagem aos engenhos

            No início do século XXI, o Estado de Sergipe permanece com o seu povo sem reconhecer grande parte do seu potencial histórico, arquitetônico e consequentemente turístico. A viagem aos engenhos demonstrou um pouco da riqueza e do potencial que o estado tem ainda a ser explorado tendo uma maior apreensão da História do nosso estado.
            Inaugurando a região do Cotinguiba, a primeira paragem se deu na fazenda Santa Cruz, onde a casa grande ficava no topo da fazenda em um ponto muito elevado, a arquitetura belíssima do século XX com seus móveis de madeira antiga adornados por raros utensílios de porcelana. Na casa havia ilustrado por um lindo quadro na parede onde estava Maria do Topo, a matriarca do engenho Pedra que visitaria-mos adiante. O engenho pertencente a família Bragança. Os móveis realmente são de uma riqueza impressionante, a mesa de jantar, os candelabros e os lustres ricamente adornados. Despedi de Santa Cruz com uma doce lembrança de um local familiar e calmo de um lugar que ainda conserva com maestria a beleza de tempos áureos dos engenhos sergipanos.
Detalhe da luminária de teto da casa da fazenda Santa Cruz

          Logo em seguida fomos até o Engenho Pedras e vimos o abandono como destaque. Em meio a um campo de mata e, em seguida, ao seu derredor vastas plantações de cana-de-açúcar estava a Casa Grande em meio a sua imponência e ao lado uma capela que ainda encontra-se conservada, embora muitas de suas características deixaram de ser originais. No interior há explicações por parte do professor e sua orientanda sobre a História do local e sua representação para Sergipe. A mais antiga referência ao Engenho Pedras data de 1807; em 1835 eram seus proprietários Luiz Barbosa Madureira e Ana de Faro de Manuel Rollemberg de Azevedo que herdara o engenho do pai. Além do Pedras possuíam os engenhos Unha de Gato, Maria Teles, São Joaquim e Vitória. O engenho Pedras era denominado de bengué, seguindo o padrão da maioria dos engenhos da época que eram movidos a cavalo. Conta-se que o engenho era o que mais possuía escravos em Sergipe contando com 129, em 1866. Com a morte de Ana Faro o engenho passou por inúmeras adversidades sociais e econômicas pela qual passava a Província dentre elas a proibição do comércio de escravos, epidemias, cólera, seca, alta dos preços e fome. Com a morte de Luiz Madureira o declinio se consolida. Bem perto há senzalas que segundo a explicação do professor seguia uma estrutura diferente, pois as senzalas de Sergipe eram divididas em pequenas casas para os escravos e escravas tivessem maior intimidade e tivessem filhos gerando assim para o seu senhor mais escravos.

Aspecto do engenho Pedras
            A terceira paragem se deu no fabuloso engenho Paty que encontra-se muito bem conservado e revela muito da História do estado. Localizado no município de Rosário do Catete significa a inteligente resistência na Revolta Tenentista de 1924. O que se evidencia bem são os canhões são evidentes ainda hoje, e pode-se facilmente notar que retirando as árvores do ponto elevado de onde foram colocados os canhões tinha-se uma vista estratégica de toda a região, ou seja, quaisquer tropas que passassem destinadas a Aracaju viraria facilmente alvo da artilharia. O engenho Paty juntamente com o Serra Negra são as duas grandes propriedades do Cotinguiba. A localidade figura ainda como morada de Leandro Maciel, antigo governador de Sergipe. Em relação a casa com seus móveis antigos e porcelanas conservadas, além de quadros retratando épocas remotas, pode-se facilmente perceber pelos seus desenhos o estilo neo-clássico de suas janelas e que os quartos não davam grandes privacidades aos seus hóspedes ou moradores por todos eles possuírem duas entradas, que segundo estudiosos eram para os escravos domésticos entrarem e saírem dos quartos sem serem notados. Assim como Santa Cruz, o Paty ficava em um local elevado onde toda a região podia ser divisada.
Aspecto da Casa-grande do engenho Paty
            O quarto engenho denomina-se Santa Bárbara e apesar do azulejo português e sua arquitetura barroca encontra-se em estado de enorme degradação e com sua faixada, a sua frente totalmente comprometida e sem nenhuma restauração. Os primeiros proprietários datam de 1832 e foram o senhor Theotônio Correia Dantas casado com D. Clara Angélica de Menezes, tendo o filho do casal aí nascido. Depois passou para o domínio da família Vieira de Mello que desmembraram o engenho em duas partes, Santa Bárbara de Cima e Santa Bárbara de Baixo. De início era de Bengué e depois passou a ser movido a vapor e sua produção passou a ser expressiva chegando a moer 14 a 15 mil sacas de açúcar por safra. O engenho era composto por duas casas-grande, uma usina, uma chaminé e de Casas de Trabalhadores. A casa-grande que ainda resta em avançada deterioração é a de Santa Bárbara de Baixo. Logo em seguida visitamos o Serra Negra que leva esse nome por conta da serra que fica atrás da propriedade e hoje existe somente uma chaminé. Servindo como aviso caso o IPHAN e os próprios profissionais de história e turismo no estado não se mobilizem. Por último visitamos a cidade de Rosário do Catete onde avistamos a estação ferroviária e sua linha férrea e a casa do antigo diretor da estação. A cidade de clima tranquilo deixou uma boa impressão ao final da excursão aos engenhos e a certeza de que Sergipe tem muitas riquezas inexploradas e de grande valor.
            O ciclo de viagem aos engenhos é crucial para entender de forma mais coligida o estado de Sergipe e sua grande história que desperta em todos os visitantes o interesse para conhecer a sociedade atual.

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